sexta-feira, 24 de junho de 2011

no poço dos seus olhos,
guardo a sede,
adormeço nas suas noites


(sabendo que um corpo em mar deserto é solidão) 

quinta-feira, 9 de junho de 2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A quem importa tantas palavras?
Por que retê-las, contê-las?
Construir histórias,
desfazer vontades em letras.
Interessa sentir? É bom?


Perguntas me inquietam.
a saudade vem como brisa leve,
roça,
arrefece
como suspiros-dos-jardins
Descubro seu nome em uma rua de Jaboticabal.
Ao acaso, constato em lápides públicas 
o seu não estar.
Apenas placas.
Perceberá a inquietação dos seus poemas 
quem por essa rua transita?
Seu ser transcende caminhos.

...
“E a Amazônia está tão longe...”


Quem será hoje o guardião das suas palavras?

sexta-feira, 3 de junho de 2011

se fosse vento, 
não seria continental,
atravessaria sim oceanos,
carregando sementes 
e pássaros

quinta-feira, 2 de junho de 2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

trapaça
transpassa fácil
em lâmina de aço
Morei entre os morros
e o mar.
Meu horizonte transbordava
em água e terra.


(Rio de Janeiro, Copacabana, infância)


 
Silêncio,
asas concretas.
Um farfalhar preenche o ar...
uma saída  pela fresta,
réptil rasteira
Pelo avesso
me retraço.
Menos áspero,
sem arestas.
Quase.
me devore
se alimente
O mar lambe minha alma
com línguas de ressaca.
Deixo levar?


Capturo o olhar naufragante.
Ensaio megulho
em dor e caos.
Tragando vícios, beijos, soltarei dragões,
obsessivos,
doentes,
como eu.
Engolirei então poemas
e morrerei um pouco.
Amanhã, abençoarei os idiotas,
beijarei cada uma de sua faces.
É urgente agradecê-los,
eles são a medida do não ser.
Fugidios são os gestos incompletos,
o que se enreda no silêncio
em abissal pavor.
Quando o poeta morria em Paris
meu coração era pequeno.
Não percebi a ausência de seus passos
nas ruas da minha cidade.
Hoje, estou pronta.
Ninhos tão bem plantados
em altas árvores.
Quem virá em socorro?
Nos desencontros imperfeitos,
é impossível ser tigre e flor.
O pretexto era tecer
em agulhas rápidas
fios de desejos,
tão tênues
e delicados
que permanecessem.
Em minha vida,
onde caminham amigos.
Um café, um afago, um trago,
é como estar vivo.
O mar estava manso
como um aquário.
Era melhor ficar quieta.
Madrugada de outubro,
silêncio de areia,
o mar guardado em conchas
sobre a mesa.
às vezes é quase um convite
Matei o tempo,
reservei horas intermináveis
para nada,
joguei expectativas 
e tudo o mais
para depois.
Agora, eu ainda não sei.
Meu amigo mais querido,
mesmo ausente,
me segreda dor e desespero.
Sua floresta está em chamas
e ainda são tantos os projetos
inconclusos.

(pra lembrar/Claudio Berchielli/1978)
Não quero a compreensão serena das ovelhas,
me basta a traição dos abutres.
Não consigo ser luz,
sou pedra e treva,
mas há um brilho que perpassa
pelas frestas.
A hora é de solitude,
manhãs claras,
noites bem dormidas,
fragmentos de serenidade.
Apenas um construtor,
que projeta delicadezas sutis,
em movimentos,
palavras
e sensações.
Me apaixonei pelo agonizante,
sem constrangimento
devassei sua alma,
me embriaguei em seu fogo fátuo.
Jaula espelho,
meu constante contrário
não liberta a fera
inversa do meu ser.
Olhos estreitos
engoliam maresia,
naufragados no espelho.
Congelou meu sorriso
entre dentes
sua língua.
Não,
prefiro um sorvete gelado
derretido de mágoa.
Cartas
em gavetas trancadas
por pombos
chaves sem rumos.
entrou um urso
no meu olho
Tem boi no escuro olhando pra gente
e falamos de estrelinhas,
ninamos mentiras
tão bonitas quanto seu sono pequeno.
Como o carinho solto de mãos lambuzadas
imundas de tanto amor
pra se sentir na barriga.
Beijos,
feito baba de moça
escorrendo pelo queixo,
doce,
muito doce de aparência.
O pequeno detalhe
se perdeu por cuidado
entre folhas,
retrato.
O vento levou a sombra de minha casa,
que claridade cruzavam nas faces,
retratos antigos,
grades azuis nas janelas.
Em traços, dependurados
na parede,
meu pai guardado velho
por um fio de nylon.
Esboço de silêncio,
nada a dizer.
As roupas
as traças
desfazem
sem pressa.
Como uma figa
presa de superstição,
branca e limpa
fechada na mão.
Foi me enrolando
em um cobertor
que o frio
vazou a solidão.
Presa em gestos 
de outono,
mantive
o discreto sabor
dos seus desleixos.
Por avessos,
dor demais
para sentir na carne,
vontade de trair sua cara,
me despeço por carta.

PS.:odeio tudo isso.
se tivesse uma arma nas mãos,
apontava para a lâmpada
que lava seu rosto
Conversamos e bebemos.
Fumamos um cigarro
porque é inverno.
Dizem que esquenta por dentro.
Sobre os cacos
das garrafas quebradas por nós,
enterramos os pés,
por gosto.
Esmagava distraído
coelhinhos na grama,
novelos brancos de carne
sangravam em árvores altas.
Dolorido
era matar o amor.
Aquela sopa estava ótima,
imaginei teu dedo boiando na panela,
te juro, me deu enjoo.
Dedos de piano
contornam carícias.
Na gravura amassada
daquele gesto,
passa-se a ferro a sua boca.
Desejo magoado 
de lamber o papel.
Enquanto apenas
nudez pregada no teto.
O azul atravessado dos olhos,
como sua roupa,
escureceu de cansaço
e vinho amanhecido
(acinzentados de inverno)
Chovia,
no canto do seu corpo,
esperava sua mão
pousada em meus cabelos,
que alongavam fios telefônicos,
cortes de ocupada espera,
os três minutos de ontem.
era um tempo,
entardecer,
balanço de vai-e-vem
recolocar os trilhos,
retornar os bondes nas ruas,
vagar em esquecimentos
Não só
reflexo de óculos de avó,
nem quintal de casa antiga,
mas o bater repetidas vezes
a cabeça pequena na parede,
enquanto o choro
fica pregado no carrinho de brincar,
ou mesmo ainda mais longe,
montado em um cavalinho de olho de vidro.
Perfil de decolar
em luas de mel de vinte anos e tantos atrás.
Adeusinhos na porta de sair,
todos os gestos acumulados
no espaço de um.
...

Sobre o arco
o seu sorriso,
o elástico correr do tempo,
as pedras.
Amargo sonho
azul adentro.

...

É urgente amanhecer